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Toiró-ó(u)-Cultura? E Futuro Social! (Tourada 15 de Agosto 2020)



Toiró-ó(u)-Cultura? E Futuro Social!

Pelos Animais! Pela Arte & Cultura! Por Nós!

Praça de Touros- Moçambique 1937


Tauromaquia Não!

Os Tauromáquicos marcam a sua tradicional tourada do dia 15 de Agosto nas Caldas da Rainha, será a 138ª edição consecutiva, organizada pelo actual proprietário e Paulo Pessoa de Carvalho antigo proprietário (PPC Unipessoal, Ltd (Toiros e Cultura) e presidente da Associação Portuguesa de Empresários  Tauromáquicos (APET)) da praça local, para reviver a “data mais taurina, antiga e emblemática de Portugal”.


Numa altura em que políticos querem acabar com as touradas, iniciando  a campanha pelo fim dos apoios públicos a estes eventos, enquanto outros políticos defendem com unhas e dentes a tradição nacional, relembramos que as touradas já foram proibidas em Portugal em 1567 pelo Papa Pio V, e mais tarde, em 1836 , no Reinado de D. Maria II, esta última confrontada pela Casa Pia de Lisboa e as Misericórdias que no ano seguinte conseguiram revogar a decisão e ficaram responsáveis pela organização e recolha de todas as receitas dos eventos. A última proibição foi em 1919, durante a primeira república, voltando com a instauração do regime militar em 1926, apoiado pela Igreja católica.
Caldas, uma cidade de onde partiu a primeira tentativa militar para destituir Salazar, onde se formou a Carbonária e o ideal republicano, com nomes de orgulho nacional, em 2020 permite o apoio cultural e económico às Touradas e a toda a sua mentalidade de superioridade.

ANIMAIS
Não é preciso falar muito do sofrimento animal no mundo das touradas. Se o touro não sente a farpa  porque usavam os trabalhadores dos senhores, picadores para controlar as vacas e bois de lavrar?
Os cavalos são os outros animais explorados e expostos a perigos, traumas e morte nas Touradas. Outros animais já entraram nas arenas, como javalis, cães, leões, tigres, elefantes… gladiadores e escravos comuns, como também homens de pele escura (os primeiros “forcados”) queimada pelo sol durante os trabalhos nos domínios senhoriais de homens de pele clara protegida do sol e do trabalho árduo. 


Em 2018 João Moura  foi homenageado com uma Tourada nas Caldas, aproveitando também a chegada do Caldas Sport Club ás meias finais da taça de Portugal.
As recentes notícias sobre o péssimo estado de cães galgos na quinta de João Moura,  de que se orgulha ser reconhecido criador, ou as fotos de cães a atacar um vitelo, pelo seu filho, também cavaleiro, João Moura Jr, com o intuito de os vender, noticias sobre touradas privadas nas suas quintas, e a introdução dos matadores nos cartazes das touradas, deixa prever o que se passa atrás dos muros.
Só o simples reconhecimento de que os animais merecem ser livres dos interesses humanos, e de que é possível conviver com touros como se convive com cavalos, porcos ou cães abre possibilidades a um verdadeiro interespecismo, perspectiva que é completamente recusada pelos aficionados.


Com o desastre que levou à morte de dezenas de cães no incêndio em Santa Maria da Feira, ficaram a descoberto as consequências do modo como as instituições lidam com os problemas dos animais. Os grupos começaram a recolher animais de rua para não serem abatidos ou abandonados ao sofrimento nas ruas. Nas suas mãos sentem as dificuldades em obter material para construir os refúgios, os seus olhos choram acompanhando os latidos sofridos, assustados e silenciosos dos animais recolhidos aos ouvidos dos políticos, como os seus corações encolhem com a indiferença de veterinários, políticos, caçadores, criadores, e batalham para manter o seu equilíbrio mental inevitavelmente afectado pelas dificuldades e imagens semelhantes a campos de refugiados com que lidam diariamente. As dificuldades em conseguir licenças e manter toda a legalidade necessária e conseguir medicação, cuidados e alimento por parte das autarquias é asfixiante.



Agora a culpa é unicamente da demência das proprietárias do canil, apesar deste não ter sido fechado pela veterinária municipal, ou pela Direcção Geral de Alimentação e Veterinária. A DGAV é a mesma instituição que não vê problemas nas condições da praça de touros da cidade para os animais, que têm de ficar do lado de fora, interrompendo o transito e utilizando espaços públicos para aquecimento, ficando atados ao carros de transporte nas estradas em volta da praça, muitas vezes também os touros tem de ficar no camião até serem lidados e esperar em condições deploráveis até à sua morte horas depois.

A ideia de voltar a abater os cães para resolver o problema dos canis ilegais e animais errantes é novamente proposta política. Todos falham, mas quem paga é a vítima, o animal, e a DGAV é posta de fora das decisões sobre canis ou santuários de animais domésticos abandonados.
Os veterinários municipais fazem o jogo das autarquias, e podem, porque apesar de serem doutores e gostarem de serem tratados como tal, não estão sob o Juramento de Hipócrates, obrigatório para todos os médicos ao serviço da humanidade.

Nas Caldas, a veterinária municipal autoriza o abate de cães saudáveis, se for do interesse institucional. As touradas sendo do interesse institucional local e de importância cultural nacional, também conseguem veterinários para jogar consigo.
Os animais utilizados como propaganda para espalhar descriminação é ferramenta de políticos pró tourada, como recentemente demonstrou o representante do partido Chega ao postar uma foto de um cavalo  suspeito de ter sido mal tratado por uma família cigana, enquanto apoia as touradas onde são mal tratados cavalos, levando mesmo à sua morte.

APOIOS FINANCEIROS



Milhões para a tourada! Tostões para o povo!

Em Maio deste ano foi anunciado um apoio de 30 milhões para a cultura autárquica.

Em 2018 os touros chegavam aos 3.500 euros e cavaleiros recebiam 50 mil euros, com uma receita de 5 milhões por ano. Sendo esta a desculpa para grupos políticos como o Chega ou o PP defenderem as touradas, como diz André Ventura “a tauromaquia é cultura” e apontou para os “milhares de postos de trabalho” que dependem deste setor.”. Mas o Chega e o PP não estão sozinhos, PS, PSD, PCP e PS também votaram contra o fim dos apoios públicos às touradas em 2020.

Em 2018 as autarquias gastavam parte 15 milhões de euros oferecidos pela UE para eventos tauromáquicos, que a Pró Toiro considera “bastante irrelevantes”  O município das Caldas da Rainha é um dos que apoia financeiramente e logisticamente a tauromaquia.
Em 2018 gastou 4.000 euros em bilhetes para 2 touradas, uma delas a de 15 de Agosto, a autarquia justifica esta despesa com a sua política de apoio à realização de espetáculos, que é feita sob a forma de aquisição de bilhetes, patrocínios ou subsídios, para envolver elementos da autarquia na tradição, uma prática com vários anos. A Autarquia também financia a feira do cavalo lusitano com centenas de milhares de euros, ao pagar as boxes do evento, sendo sua propriedade e doar cerca de 100 mil euros por ano. A organização da feira do cavalo quer iniciar largadas de vacas nas ruas da cidade. Nesse ano (2018) a Assembleia Municipal das Caldas da Rainha analisou a proposta do PSD para considerar a tauromaquia Património Cultural Imaterial.

E nesse mesmo ano foi votado um subsidio camarário de 5100 euros ao grupo de Forcados das Caldas, grupos de acção social recebem cerca de 1000 euros.

No ano passado foram admitidas pela 1ª vez mulheres a dirigir touradas, e uma das 3 mulheres a serem admitidas é Caldense que se estreou no dia 1 de Junho (Dia da Criança) e dirigiu a tourada 15 de Agosto 2019. Na Praça das Caldas é constantemente violada a idade permitida para crianças no recinto.

A autarquia também vai apoiar a reabertura do Museu Joaquim Alves (Museu da Tourada) guardando o espólio até ao dia da abertura anunciado para o inicio de 2021 na sede do Grupo de Forcados das Caldas da Rainha, na edifício na Rua Frei Jorge de S. Paul adquirido pela autarquia e que vai ser restaurado para receber o Museu. O espólio do Museu Joaquim Alves, na posse da Câmara Municipal que o adquiriu para o preservar, foi devidamente tratado e catalogado pelo Coronel Montes.

No sede onde os forcados podem realizar as suas tertúlias tauromáquicas, comemorando a sua violência, anteriormente matava-se a fome a cerca de uma centena de sem abrigo ou famílias em dificuldades sociais e económicas, objectivo de Joaquim Sá, funcionário público, que há mais de 30 anos dá comida a quem necessita. Joaquim Sá e o refeitório social foram despejados pela autarquia em pleno inverno de 2011, no mesmo ano em que foi à RTP como Português Extraodinário. Em 2019, Quim, como é conhecido, depois da anos a dar comida nas ruas, em garagens, etc... tem um novo espaço mantido por si, doações e voluntários. Devido ao COVID-19  o pelouro de acção social camarário entregou comida para que o Joaquim “possa continuar o seu trabalho social”. Enquanto esteve no espaço de onde foi despejado, não houve restaurações nem melhorias significativas para melhorar o seu trabalho social, sendo mesmo sugerido que a sua empatia atraia os toxicodependentes e sem abrigo para a cidade. Duas das dezenas de pessoas que se alimentavam “no Quim” foram acompanhadas pela Santa Casa da Misericórdia. 
Enquanto a Fé e dedicação de Quim recebe uns kg de comida, que muito agradece e necessita para alimentar dezenas de pessoas e não as deixar ao abandono e indiferença, no outro lado vemos o espaço agora dedicado à tauromaquia ser incluindo no apoio ao desenvolvimento das artes e cultura pela autarquia. 

O apoio financeiro europeu para as touradas e ganadeiros foi conseguida por Miguel Arias Canete, ligado às famílias tauromáquicas espanholas.

CULTURA

As dificuldades de artistas, artesãos e artesãs, principalmente os que estão a iniciar a sua carreira ou a vincar o seu nome, está bem clara durante a pandemia que se enfrenta. Nas Caldas acrescenta-se a dificuldade que centenas de novos formados na ESAD têm em se manter na cidade devido à falta de apoios locais para atelier ou exposições livres, e a subida do preço das rendas devido à Gentrificaçao, para turismo. Têm sido realizadas várias tentativas de criar grupos informais, associações, cooperativas de artistas para colmatar essa falha institucional por mais de 10 anos, alguns conseguem, e ainda bem, mas grande parte da criatividade e conhecimento têm de procurar saída profissional noutras cidades ou países. O apoio existente a artistas pouco dá para estes se manterem, quanto mais se desenvolverem, ou abrir possibilidades a mais criatividade.
Para apoiar a cultura e arte local a autarquia anunciou em Junho o inicio do projecto cultural Pátio Dos Burros. Vão ser investidos mais de 445 mil euros, para divulgar três  vertentes: Bordados, Cutelaria e Cerâmica contemporânea num espaço, e Tauromaquia e Arqueologia na sede dos forcados, que recebe o Museu da Tourada e o Centro Interpretativo do Centro Histórico das Caldas.




Numa cidade onde milhares de trabalhadores da indústria da cerâmica perderam os seus postos de trabalho, como na fábrica Rafael Bordalo Pinheiro, agora adquirida pela Visabeira, que em 2009 se preparava para despedir centenas de trabalhadores da sua fábrica Vista Alegre. Numa cidade onde dezenas de artesãs e oleiros com 30 anos de experiência até aos recentemente saídos da ESAD ou CENCAL, são obrigados a procurar sustento e deixar a sua arte para os “tempos livres”, forçados a abandonar o seu atelier por falta de meios, ao mesmo tempo são gastos milhares para uma cultura de exclusão e exploração em nome de uma marca turística, apagando o nome de vários artesãos e artesãs.

Os bordados foram assimilados pelas Caldas através da tradição da irmã de Bordalo  em tricotar bordados e mais tarde, erguidos de novo por uma ex-aluna da ESAD, Joana Vasconcelos, com a sua exposição “Bordalina”, depois de 2 anos a trabalhar na fábrica Bordalo Pinheiro. Augusta, irmã de Bordalo entre outras coisas dirigiu a Escola Industrial D. Maria Pia.
A Visabeira prepara um mega projecto turístico-cultural de luxo nas Caldas da Rainha, onde a tradição cultural e termal, como também a marca Bordalo são as suas armas, para isso adquiriu património local para um hotel de 5 estrelas, que assimilou o último local verdadeiramente cultural e acessível, enquanto funcionou como Casa da Cultura, e que depois das obras abandonadas, funcionou como  “Galeria de Artes” de acesso livre, sem censura. Nesse edifícios a ocupar pelo projecto da Visabeira vivem dezenas de gatos e milhares de pombos, ainda não existem soluções para ambos, alguns gatos foram recolhidos por associações.

Os que culpavam a globalização e as fábricas chinesas pelo despedimento dos trabalhadores de cerâmica locais, hoje criam o seu negocio baseado na oferta para aqueles que ganharam com a globalização e podem vir a Portugal apanhar sol, assistir e participar na cultura e na tradição portuguesas, como as touradas e caça à raposa proibidas no Reino Unido, ou montar ou ver correr e saltar um Puro Sangue Lusitano ou ainda assistir a uma corrida de Galgos para delícia do alemão, holandês, do árabe, do asiático, espantados e desejosos de consumir o “que é nosso”.

A cultura violenta das tauromaquia não faz justiça às suas raízes: os coliseus romanos, mas consegue mostrar o que faria se o pudesse, ao investir de carro ou de cavalo sobre manifestantes. As ameaças e palavras de ordem em defesa do Estado Novo são constantes do lado dos aficionados. Nas Caldas já houveram agressões depois de uma manifestação, como a tentativa de agredir voluntários que colavam cartazes anti-tourada. A sua defesa é a mesma que os seus antepassados esclavagistas, latifundiários, monárquicos: O que é de Portugal sem nós?

Enquanto se revoltam contra a comemoração do 25 de Abril em tempos de pandemia, regozijam-se com a 1ª tourada da época no Campo Pequeno.

Ser pelo Fim das Touradas é criar um futuro mais empático, eco-centrista. É por um futuro mais aberto, criativo e igualitário…

Ser Pelo fim das Touradas é ser pelo fim do etno-centrismo, especismo, pelo fim da prisão mental construída por um vírus chamado: Superioridade.



NÃO ÀS TOURADAS!


fADJEN FOI SALVO DAS ARENAS! OS OUTROS CUMPRIRAM A TRADIÇÃO!




Comentários

  1. A tauromaquia é o "entretenimento" de "gente" dotada de mentes decadentes. Felizmente essa "gente" está em extinção. E as touradas também.
    Os tauricidas andam por aí , aos caídos, a tentar manter de pé uma actividade perniciosa, e, cada vez mais, são contestados e marginalizados. E isto diz do prenúncio da extinção.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    Respostas
    1. Essa é a pergunta que muitas vezes faço a mim própria, Arsénio Pires. E a resposta que encontro é esta: primeiro há que "limpar" o Parlamento, dos políticos que não se regem pela ÉTICA. E isto está na nossa mão, na mão dos que abominam estas práticas e esta política sem-ética.

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    2. Isabel Ferreira, com o meu voto não conta que nenhum dos partidos que não votaram contra as touradas e a favor da continuação dos respectivos subsídios por parte do Estado. A ÉTICA assim o exige.

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    3. Também não contarão com o meu voto. Aliás, já não contavam.

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  3. Vale bem a pena ler este artigo. Obrigado pela partilha, A barbaridade tauromáquica, apoiada e financiada pela degradante classe política portuguesa (na sua maioria apoiante desta vergonha nacional e mundial) é uma aberração que deve acabar por LEI. Só legalmente é que esta vergonha pode acabar. Quando teremos políticos regidos pela ÉTICA?

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