Em Defesa dos Animais Humanos e Não humanos!
Contra a Cultura da Tauromaquia, Monarquia e Oligarquia!
Gladiadores (e)
Animais!
Os objectos das elites! A raiz do seu poder!
No dia 14 de Agosto, em Caldas da Rainha, estreou-se em
Portugal um “espectáculo” de Gladiadores na Praça de Touros. Malabaristas, saltimbancos
e ginastas, todos aficionados, vão relembrar o tempo das lutas entre animais
não humanos e animais humanos para jubileu dos presentes. Uma forma de atrair
novos aficionados para uma cultura tauromáquica, através da “brincadeira”, do
jogo e da “ligação” entre a população de Caldas e da Zona Oeste com a elite
tauromáquica local, nacional e Ibérica.
Enquanto a luta de décadas contra os animais de circo estava a dar alguns
passos, e as pessoas entendiam que para se divertirem não necessitam de
explorar, torturar e matar animais ,que vivem sempre em cativeiro com o único
intuito de serem lucrativos, seja na arena, no prato, nos laboratórios, no
desporto, no lazer ou no turismo, a industria tauromáquica, vendo-se sem
soluções para o financiamento das suas praças de touros, inicia um rol de
espetáculos, que levam às vacadas, às largadas-á-corda, ao touro com cornos a
arder, a um nível aceite por todos - menos os radicais vegetarianos e
defensores dos animais- e dentro da leis de bem-estar animal e espetáculos.
Com a celebração da lei de reconhecimento da capacidade de
os animais sentirem o mundo à sua volta e onde deixam de ser objectos por
decreto legislativo, como ficamos em relação a este tipo de eventos “culturais”,
onde o animal é subjugado aos interesses humanos, sendo tratado como uma coisa,
sem direitos próprios?
A indústria tauromáquica tem um passado monárquico de que se
orgulha e que o Estado Português financia hoje através do Ministério da Agricultura,
do Ministério da Cultura (educação), Ministério do Ambiente e Ministério da
Administração Interna. Tem as portas das escolas abertas, ao contrário dos
“radicais” anti tourada, apoios camarários para pagar contas, espaços e
infraestruturas necessárias ao seu negócio, ao contrário dos grupos que querem
criar condições para recolher animais abandonados, ou formas de entretenimento
sem animais.
Desta vez foi ainda mais longe na sua valorização dos “bons velhos
tempos” de que as Repúblicas e Democracias se deveriam desmarcar, os tempos romanos.
Roma faz parte das raízes históricas da cultura ocidental, desde o progresso
militar, de construção, agricultura e religião. Foram tempos onde a supremacia de uns sobre outros se enraizou como
forma de organização social civilizacional. A Cultura tauromáquica assenta na tradição cristã e nacionalista
através do trabalho do homem na terra para a indústria latifundiária. O seu
maior argumento para se manter as touradas é a tradição portuguesa e a
conservação dos touros.
Que cultura apoia um
aficionado?
Foto: Moçambique 1932
Os Gladiadores são dos tempos romanos, feitos escravos
depois da sua captura, nas guerras da expansão económica romana e do
cristianismo, muitas vezes depois da sua aldeia ou povo ser eliminado e as suas
mulheres tornadas escravas sexuais nos bordéis dos senhores. Treinados para
morrer ou matar em nome da pacificação da população, da estabilidade do Estado
Romano, da superioridade humana sobre o restante mundo vivo e não vivo, e para a
aceitação de que uns são mais fortes que outros, o que justifica a organização
social por classes existente ainda nos dias de hoje.
Eram colocados a lutar entre si (muitas vezes das mesmas
tribos ou famílias) ou contra animais selvagens como leões, tigres, cães,
elefantes, cobras, touros e mais. É essa a mentalidade que este espetáculo vai
tornar banal e divertido. Roma, como outras civilizações antes dela era uma
sociedade baseada em escravos. Os patrícios (grandes proprietários)
monopolizavam o poder, excluindo os plebeus (pequenos proprietários e povo) dos
postos dirigentes. Por volta do ano 287 a.c. as revoltas dos plebeus levaram à
igualdade política (não social), onde patrícios e plebeus se uniram para uma
nova sociedade política (início das Repúblicas).
Nos primeiros anos a divisão
de trabalho não era tão acentuada, o plebeu trabalhava na terra com poucos
escravos, o que diminuía a distância social, atenuando de certa forma a
hierarquia. Mas apareceram os “homens de bem”, definidos pelos romanos como
Oradores, homens capazes de dirigir um
Estado, suas assembleias, estabelecendo-o através de leis, e reformado pela
justiça. (1)
Eis aí, antes de tudo, o homem de bem Habemus igitur ante
omnia virum bonum. O Homem de bem, vir
bonnus da definição de Catão, é o homem das classes dirigentes, a quem a
educação desenvolveu as qualidades necessárias, não só para cuidar dos
interesses dessas classes e aumentá-las, como, também, para defender a sua
classe contra as ameaças da populaça amotinada” (2)
No século V o número de escravos era em média de 1 para cada
16 homens livres. Depois da segunda guerra Púnica e a conquista das Gálias a
expansão rendeu mais de um milhão de escravos, o número de escravos era o dobro
dos homens livres. O exército romano era seguido pelos mercadores de
escravos. Quantos povos tribais da península
não foram vendidos? Com um número crescente de escravos, os senhores dos
domínios rurais entregaram a lide das suas propriedades a um escravo de
confiança, e o trabalho começou a ser visto com desprezo e ocupação de classes
e raças inferiores. Este tipo de sociedade só pode ser mantido através da
violência física ou cultural.
Os escravos mais robustos eram educados como gladiadores,
para distrair e proteger o senhor e Roma. As escravas eram educadas nas artes,
poesia, e afins para agradarem sexualmente aos nobres devaneios. As várias
revoltas de escravos levaram a que os senhores criassem o Peculium (3), além da
venda da liberdade do escravo ou sua família ao próprio escravo. O escravo pagava sempre mais dinheiro do
que tinha custado, o que tornava a sua liberdade um negócio lucrativo para os
esclavagistas (donos/comerciantes de escravos). Os escravos libertos
juntaram-se aos pequenos proprietários, e ambos foram arruinados pelos latifundiários
por volta do séc. IV a.c., entregando-se ao comércio e à indústria. Foi por
esta altura que a educação estatal começou pela primeira vez na história,
iniciada no ano 362 por Juliano para impedir a entrada dos cristãos na escolha
dos professores, e no ano 425 Valentino proibiu toda a forma de ensino não
estatal. Tudo isto devido à necessidade que as classes dominantes tinham de
preparar funcionários para o Estado. Os professores, como o exército, defendiam
os interesses de Estado.
O homem feudal que tanto orgulha a tradição tauromáquica, aprendendo
com a queda de Roma, mas com raízes nos escombros da economia antiga, inicia um
novo regime económico que não assenta sobre o trabalho “escravo” e do colono,
mas sobre o servo e o vilão.
O vilão, descendente de colonos romanos, não se vendia,
oferecia-se, eram livres. Propunham a alguém o cultivo de terras pelas suas
mãos, em troca de compensações. O pedido tinha poder jurídico e era conhecido
como súplica ou precária. O vilão
reconhecia uma autoridade que o próprio escolheu aceitar. Por sua vez o servo
era descendente dos escravos, não era livre nem assinava contractos, nunca
podendo abandonar o serviço ao senhor.
Na Idade Média o feudalismo era constituído por 3 grupos
sociais: os bellatores (guerreiros), os oradores (religiosos) e os labatores
(trabalhadores).
Os gritos contra a
propriedade privada e contra a exploração pelas mãos dos poderosos, que se
faziam ouvir pelos primeiros padres da igreja católica, foi sendo abafado (pelo
Vaticano e Roma) (4)
A Igreja tornou os seus mosteiros em poderosas instituições
bancárias de crédito rural. Nesses mosteiros a divisão de classes continuava a
existir. De um lado os monges, dedicados ao culto e ao estudo, do outro os
escravos, os servos e os conversos, destinados aos trabalhos. (5)
Seguindo as ideias de S. Bernardo, da Casa de Borgonha de
que os Hommes de Peine (homens de trabalho braçal) - pelo simples facto de
serem analfabetos - (…) apresentavam mais resistência à fadiga e eram capazes
de suportar tarefas mais longas e mais penosas (6)
Os cavaleiros, como
representantes da sua classe social eram (e são) a idealização das virtudes
guerreiras. Os torneios eram a preparação para a guerra, na defesa do seu
senhor. Foi assim que apareceram as touradas…
Invasão da cultura
“portuguesa”
Na Lusitânia foram criadas no séc. III, juntamente com a
criação dos inspectores imperiais (tipo FMI), 3 províncias romanas conhecidas
como conventus, na zona de Santarém e
a norte do Douro até além do Guadiana. Depois da conquista, com a paz de
Augusto, a Lusitânia entra em franca prosperidade económica, assente no
desenvolvimento da agricultura. Neste mesmo séc. III o cristianismo confrontava
abertamente o conceito de superioridade romana, o culto dos deuses romanos
(guerra, agricultura, sexo/amor), o culto da imagem através da recusa da
divindade imperial, a escravidão (base da economia) e os espectáculos degradantes e desumanos dos dominadores romanos
(coliseus, banhos aos deuses, etc).
A igreja, em nome dos cristãos, assimilou quase todas as superstições pagãs e
cultos (tribais) locais, tornando a civilização cristã a base da cultura
romana, ao transformar as crenças animistas dos indígenas peninsulares como
verdades suas. Deste modo o cristianismo primitivo foi assimilado, modificado e
apropriado pela Igreja Cristã Romana, e Roma no séc. III recebia de vários
locais do mundo, da Primeira Guerra Púnica 75.000 escravos. Na segunda guerra
com o mesmo nome foram feitos escravos 150.000 indígenas… Ámen!
Alguns escravos tinham sorte e eram educados para tarefas
domésticas e civis, ou então como filósofos, professores, artistas e
arquitectos. Os menos afortunados, bárbaros ou criminosos (como as “tribos da
Lusitânia”), iam parar às escolas de gladiadores e aos horrores de minas e
pedreiras.
Depois de Viriato ter corrido com os romanos e D. Afonso
Henriques com os árabes, a escravatura continuou a ser fonte de economia
“nacional”. No séc. XII já existiam escravos negros na Europa, trazidos quando
da 1ª Cruzada, e pelos desejos de D.
Afonso Henriques em 1441 foram trazidos os primeiros “cativos” pelos
navegadores, para trabalharem na agricultura, eram mais um recurso natural,
criado para se obter lucro. Mais tarde em 1443 Lançarote de Lagos realizou
uma expedição às Ilhas de Arguim, de onde trouxe 275 escravos. Este comércio
era aplaudido por Reis e Papas que assim salvavam as suas almas (dos negros)
através do grémio católico. A escravatura foi o pilar da economia baseada na
cana-de-açúcar e da economia dos principais reinos da Europa. Angola era a
principal fonte de abastecimento de escravos, o Estado (Reino) português
recebia por cabeça 3000 reis quando
iam para o Brasil e o dobro para as índias de Castela. Em 1591 a exportação de escravos estava registada em 5000 pretos
anualmente. (7)
Enquanto os funcionários eram instruídos nos mosteiros e
ensino privado para dirigir e educar, os pobres e os selvagens eram
domesticados para o proletariado (mão de obra).
Do Livro; Roma, S.A. A ascensão e a queda da primeira
corporação multinacional; Stanley Bing. Coleção Guru, editora Lua de Papel:
(…) as empresas
começam com uma boa ideia, crescem a fornecer produtos e serviços aqueles que
deles precisam, expandem áreas de actividade; evoluem, criando mais do que
destroem, sempre levadas pelo desejo central de fazer bem feito e manter os
seus gestores satisfeitos. Desde o princípio que Roma tinha uma ideia
empresarial simples e boa – de que todos os que fossem conquistados por Roma,
trazidos para o negócio, passavam a ser romanos. Os que eram comprados deixavam de ser ELES: passavam a ser Nós. Roma
vendia cidadania ao Mundo. Numa época em que a maior parte do mundo vivia e
morria a chafurdar na lama e a tentar apanhar peixes à mão numa ribeira
rochosa, esse era de facto um bom produto! (…)
O que preferiam ser?
Um director de planeamento estratégico ao serviço de Roma ou o vassalo de um
tipo qualquer coberto de peles?
O império romano não caiu. Fez simplesmente o que todas as entidades
empresariais fazem se querem sobreviver através dos séculos e milénios –
reinventam-se e emergem como novas entidades globais altamente organizadas,
espiritualmente unificadas, altamente politizadas e imensamente ricas, para
continuarem a crescer até aos dias de hoje. Chama-se Igreja Católica Apostólica
Romana. (…) nesses primeiros
tempos, a igreja, que de repente se tornara na cultura empresarial que qualquer
pessoa inteligente abraçava, simplesmente absorveu as características de
organização e liderança do império que servia ostensivamente. Quando essa
entidade secular controladora desapareceu, foi a igreja que ficou de pé. (…)
deram um novo nome ao patrão e continuaram a trabalhar. Guerreiros, vendedores,
espertos, arquitectos, mendigos, assassinos, festivos, mercadores e políticos,
todos andaram pelo mundo a adquirir novos territórios e a produzir riquezas,
fazendo-o sobre diversas bandeiras.(…)
Ao Longo Dos Tempos
De um artigo do jornal Expresso: O Segredo dos Escravos
Reprodutores:
Tem criação de escravos mouros, alguns dos quais reservados
unicamente para fecundação de grande número de mulheres, como garanhões,
tomando-se registo deles como das raças de cavalos em Itália. Deixam essas
mulheres ser montadas por quem quiserem, pois a cria pertence sempre ao dono da
escrava e diz-se que são bastantes as grávidas. Não é permitido ao mouro
garanhão cobrir as grávidas, sob a pena de 50 açoites, apenas cobre as que o
não estão, porque depois as respetivas crias são vendidas por 30 ou 40 escudos
cada uma. Destes rebanhos de fêmeas há
muitos em Portugal e nas Índias, somente para a venda de crias.
Em 1571, João Batista Venturino da Fabriano, secretário
geral do cardeal Alexandrino Miguel Bonello relatou a existência de escravos
reprodutores na Casa Ducal de Vila Viçosa (importante casa nobre portuguesa)
quando propunha casar Margarida de Valois como noiva de S. Sebastião… no séc.
XVI viviam 350 pessoas no Paço Ducal e os escravos eram criados num local
conhecido – e chamado ainda hoje- pelos trabalhadores como a Ilha.
Falando dos escravos,
a linguagem do autor é bastante solta, e por isso não transcreveremos esta
passagem. Basta saber que estes
desgraçados eram considerados e tratados como as raças de cavalos em Itália, e
pelo mesmo método, que o que se buscava era ter muitas crias para as vender a
trinta e quarenta escudos - Alexandre Herculano, século XIX, Opúsculos,
volume VI, sobre um texto de Venturino.
Impõem-se
investigações rigorosas. Este é um documento de extrema violência, em que os
escravos são tratados como cavalos. A investigação é difícil, mas tem de ser
feita - afirmou isabel Castro Henriques, investigadora e escritora do livro "Os Africanos em Portugal, História e Memória, séculos XV-XXI”, numa
conferência sobre a escravatura, na Biblioteca Nacional.
(…) em todo o Reino do
Algarve, e em algumas províncias de Portugal (que tinham) escravas
reprodutoras, algumas mais brancas do que os próprios donos, outras mestiças e
ainda outras verdadeiramente negras, (designadas) ‘pretas’ ou ‘negras’(…)
- Colecção da Legislação Portuguesa (1763-1790).
Pode-se pensar que isto foi passado e que o fim das
monarquias e reconhecimento dos direitos humanos teria acabado com o fim da escravatura
milenar. Mas um estudo de Caitlin C. Rosenthal, ligada à Harvard-Newcomen em
história empresarial na Escola de Negócios de Harvad, revelou que os
latifundiários do sul (mais que do norte) dos EUA no séc. XIX, lidavam com os seus
escravos como recursos, acompanhavam
meticulosamente a sua produção, mediação e momento a descartar o escravo, por
outro mais novo e rentável. Esta foi a época da Grande Expansão dos EUA
devido à sua indústria. Este trabalho faz parte do seu projecto livro: “From
Slavery to Scientific Management: Capitalism and Control in América,
1754-1911”. E a edição Slavery’s Capitalism a sair…
O adoptar deste controlo dos escravos para melhor produção
foi generalizado no Mississípi por Thomas Affleck, agricultor e contabilista,
que desenvolveu os livros de contas dos latifundiários, padronizando a
produção. Segundo registos sobre escravos, os dados eram utilizados, por
exemplo, para calcular o número de chicotadas de acordo com o peso a menos
pedido pelo patrão. No séc. XX as fábricas começaram a oferecer incentivos,
prometendo prémios de produção.
existe uma pergunta maior e poderosa a perguntar, se hoje
estamos a utilizar técnicas de manutenção (empresaria) que também foram
utilizadas por donos de escravos de plantações - diz Caitlin, Que cuidado precisamos de ter? Quanto
mais precisamos de pensar na nossa responsabilidade com as pessoas? (8)
As Colónias
Portuguesas
Portugal é conhecido por ter sido pioneiro na abolição da
escravatura, em 1761. Mas essa abolição não funcionava nos territórios
coloniais, e muitos esclavagistas continuavam a fazer negócio de escravos
africanos para as colónias americanas, portuguesas e espanholas. Tanto que Portugal voltou a proibir o
comércio de escravos em 1854, juntamente com a Grã-Bretanha, e só aí foram
libertos os escravos que restavam em cativeiro, menos os da igreja católica,
que só libertou os seus escravos em 1869, sendo o final da escravatura no
império português… mas as colónias africanas só foram libertadas – por decreto-
em 1974.
Tristão da Cunha é o símbolo de orgulho da Quinta do
Castilho, da sua cultura e tradição, que como bom cristão, cavaleiro e homem de
bem, só deixou o negócio da escravatura do homem sobre o homem em simultâneo
com a igreja. A Quinta do Castilho é propriedade da família Infante da Camara,
a mais conceituada no mundo tauromáquico, e que, em 2015 através do casamento
(outra tradição) de Caetana Infante da Camara com João Ribeiro Teles JR,
aumentou e fortificou a influência destas famílias de Cornos e cavaleiros. Império iniciado por Dr. Emílio Ornelas
Infante da Camara, figura pilar da agricultura oitocentista, que com o Estado
Novo fortificou sua influência e com a democracia consegue financiamento para
se manter como imagem do bom português, criador de cavalos e touros para as
forças de segurança, desporto e lazer. O bom latifundiário. Família que
esteve na inauguração do Campo Pequeno em 1892 e na comemoração do seu
centenário. Foi um touro da família Infante da Camara que pôs o forcado Nuno
Carvalho (descendência africana) em cadeira de Rodas!?
Os zoológicos também
foram iniciados para deleite dos Reis e egocentrismo dos “descobridores”.
Tristão como explorador de territórios virgens, onde hoje se situa Moçambique,
Guiné, Angola, Senegal, Congo e Índia, foi além de esclavagista um dos
primeiros comerciantes de animais selvagens vivos, a que hoje se chama
programas de conservação de animais em perigo ou em extinção. No ano de 1514, numa visita como embaixador de Portugal ao
Papa Leão X, levou consigo um elefante
para o Papa, batizado de Hanno, que o adoptou como mascote do Vaticano, leopardos,
panteras, papagaios, perus raros e cavalos indianos, entre outros animais das
colónias, incluindo “pretos e selvagens” juntamente
com riquezas da Índia. Hanno, como um cavalo de Dressage ou bem domesticado,
ou um “bom homem de Deus” (servo), ajoelhou-se em sinal de reverência. Também ficou registado através de
xilografia o rinoceronte que faleceu quando o navio onde era transportado
naufragou.
Hoje a conservação tem “tropas” de locais a matar locais e a
vender caça grossa de animais em perigo a milionários e reis. Enquanto se
assinala a morte de centenas de nativos pelos guardas florestais (também
nativos), no El Corte Inglês vendem-se
safaris de caça em reservas. A caça e a exploração como ferramenta de
conservação. Mentalidades que viveram sempre da exploração do homem sobre
o homem e do homem sobre a natureza. Tristão da Cunha foi o primeiro português a entrar no
território conhecido como Guiné Bissau, nomeado 1º governador da Índia,
embaixador junto do Papa Leão X e nomeado Cavaleiro de Cristo.
A tauromaquia é produto vendido e divulgado por Portugal,
Espanha e França (na Europa). Portugal e Espanha têm laços ancestrais que os
ligam latifundiariamente, religiosamente e politicamente que utilizam para
manter a sua cultura e tradição, sendo a tauromaquia um dos pilares.
Portugal é um bom exemplo de ligações entre governo, política e famílias monárquicas. Mas deixamos o exemplo de Espanha, pois
conseguiu mais (julgo que qualquer um pode comparar com a situação em
Portugal).
Arias Canhete, com um longo
percurso no aparelho partidário do PP,
entre 2011 e 2014 foi Ministro da
Agricultura, Alimentação e Ambiente no governo de Mariano Rajoy, tendo
antes, entre 2000 e 2004, sido Ministro
da Agricultura e Pescas no último governo Aznar. (…)cunhado por casamento do ganadeiro Juan Pedro Domecp (Ganadeiro de
touro bravo para Lide e Cavalos). A sua
ligação à tauromaquia manifesta-se ao longo da sua carreira política e
governativa de forma clara. Em 2001, em defesa do interesse da nação (e seu
e de sua mulher, filha dos marqueses de Valência e restante família
tauromáquica), Cañete escusa-se do Conselho de Ministros que aprovava um
decreto-lei preparado pelo seu ministério sobre apoios à raça bovina de lide
(touros de arena). Nesse mesmo ano Rajoy delega-lhe a pasta de apoio ao sector
taurino. Foi Cañete a forçar em Espanha
a PAC (Política Agrícola Comum), que entre 2014 e 2020 pretende subsidiar com
47 mil milhões de euros o sector agro-pecuário, que em muito beneficiará a
ganadaria. (10)
Canhete foi nomeado Comissário do Ambiente e Energia da
Comissão Europeia. O Ministério da Educação do Estado Espanhol em 2015 propôs
às regiões autónomas a abertura de um novo curso profissional em “Tauromaquia e Atividades Auxiliares em
Pecuária”.
Francisco “Chição” é o presidente da Juventude Popular em
Portugal desde 2016, fervoroso católico e aficionado das touradas. Seu objectivo
ser politicamente como Paulo Portas ou quem sabe como um Canhete!
Num país como Portugal que viveu até à bem pouco tempo nas
graças e abandono dos latifundiários, religião e fascismo, como é possível
continuar a haver consenso no desrespeito à liberdade ou no dever de manter a
tradição da exploração dos ladoratores
pelos oratores.
A esmagadora maioria das forças politicas têm nos seus
quadros aficionados. Umas por direito e outras por dever! Umas por tradição…
Outras por confusão?
Acabar com as
Touradas não é só pelos touros e cavalos. É por todos os animais humanos e não
humanos que sofrem na indústria latifundiária, caça e turismo. É por todos nós!
1- Quintiliano e Plínio, o moço: Oeuvres Complétes,
paris, 1853
2-
Educação e Luta de Classes; Anibal Ponce:
Educação do Homem Antigo: Roma, pag. 74
3-
Lei romana: quando um pai ou senhor permitia que
o seu filho ou escravo tivesse uma propriedade registada como sua.
4-
Montesquieu: Grandeza y Decadencia de los
Romanos, Madrid., Bloch, ob.cit: “ Se o cristianismo se tivesse encerrado
obstinadamente nos seus princípios, não vemos de que modo o império se teria
transformado em império cristão” pág. 302. Na página 306: “A paz fez-se (entre
império e a igreja), mas a expensas do cristianismo, não da igreja.”
5-
Na ordem dos Templários, repetiu-se depois um
fenómeno análogo: temos, de um lado, os fréres du convent e, do outro, os
fréres du métier, nobres, aqueles, de classe inferior, estes. Educação e Luta
de Classes, Anibal Ponce, editora Vega
6-
Besse: les Moines de LÁncienne France, pag
249-250
7-
Curso de História da Civilização Portuguesa; A.
Martins Afonso, professor do liceu camões. Porto Editora
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