A exploração no Turismo Animal…
Em
2016 Porugal alterou o Código Civil para que os animais sejam
classificados como seres
vivos dotados de sensibilidade e objecto de protecção jurídica.
Assim foi criada uma
solução jurídica para a falta de lugar para o animal na relação
com o homem, pois era visto juridicamente como coisa.
Embora sejam propriedade, foi criminalizada a possibilidade
de, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer
outros mais tratos que resultem em sofrimento injustificado, abandono
ou morte. Assim, tendo o animal figura jurídica,
por exemplo, pode-se salvar “cães perigosos”, ou julgar alguém
por maus tratos. Ou então condenar mais facilmente, um animal
errante, perigoso ou indesejável (como cavalos garranos, pombos,
gaivotas, cães vadios, gatos não esterilizados, etc), para que as
ruas e serras sejam mais seguras e saudáveis.
Antes, ao se salvar
um animal preso era-se culpado de roubo, agora pode-se ser culpado de
rapto com implicações cognitivas sérias na vida do animal
explorado (que não é proibido pela nova lei) e na actividade
“simbiótica” do explorador com o animal (produto) que permitia o
bem-estar de ambos…
Os estabelecimentos de restauração e
indústria hoteleira são a representação da exploração laboral
(animal humano assalariado, como recurso humano (1) e animais
domesticados, como recurso natural, para a criação de produtos (2)
) porque ambos encontram-se dependentes do turismo e
submissos à vontade do turista, que com o apoio do Estado subverte a
hospitalidade em servidão, e acultura o bom-povo português para
que ele sirva à mesa ou atrás de um balção, de fato e gravata ou
mini-saia, pratos da cultura portuguesa ou iguarias exóticas, como
gafanhoto com chocolate ou bolachas de minhota. (3)
Segundo o artigo no Jornal das Caldas
(3), a FAO apresenta as vantagens do
consumo de insectos, perante as estimativas que prevêem
que em 2050 a produção animal não será suficiente para alimentar
a população.
Caldas da Rainha, por exemplo, sendo
uma cidade virada para o turismo, como quase todo o litoral da Zona
Oeste, tem apostado na formação e criação de áreas de turismo de
luxo, aproveitando apoios europeus e a crise nacional, crise que já
habitava na cidade com o fecho das fábricas de faianças que levaram
ao despedimento de milhares de pessoas, apesar de hoje uma das
fábricas, a Fábrica Bordalo Pinheiro (artista naturalista), ser um
dos ex-libris do Turismo local. (4) De uma localidade erigida a cidade por
latifundiários, herdada de cavaleiros, rainhas e clero, é de
esperar que exista também turismo animal fora do prato. A tourada
traduzida para Inglês- bullfithing- é atracção turística em
cidades como Caldas da Rainha , Nazaré, Marinha Grande e por aí a
fora até à largada à corda nos Açores. Com uma tradição
tauromáquica alimentada pelos cavaleiros desde os tempos
monárquicos, a Câmara Municipal (que também apoia financeiramente
as touradas) já doou centenas de milhares de euros para Feira do
Cavalo Lusitano, no parque D. Carlos I, último rei de Portugal, que
aprendeu a tourear com cavaleiros caldenses.
A Feira do Cavalo Lusitano ,iniciada em
2010, é organizada pela Associação dos Criadores do Cavalo Puro
Sangue Lusitano do Oeste, que apoia workshops de forcados na praça
de touros local e a largada inserida no evento. Esta feira vem
reforçar o investimento da indústria de equitação na Zona Oeste,
onde em 2012 foi instalado o centro equestre CEIA, que recebe várias
provas internacionais, estando no seu projecto um hotel para receber
visitantes e desportistas. Em Abril deste ano o centro equestre CEIA
em colaboração com a empresa de leilões Leilosoc Market Partners
realizou o primeiro leilão público de cavalos legalizado em
Portugal. Na feira do cavalo encontram-se
centenas de cavalos em exposição, exibições de dressage, salto,
técnicas de equitação, os cavaleiros militares da GNR, os
convidados pela Câmara e associações de comerciantes. A largada de
touros que se realizava dentro da feira passou para a praça de
touros.
No parque da cidade existe uma charrete
puxada por um cavalo todo o dia, para passear turistas, e como o
ponto de partida é junto ao parque de infância (baloiços) as
crianças levadas pela atracção pelo animal aceitam, sem o saber,
participar na sua exploração. Com o crescimento do turismo e a
fixação cultural local pela elite cavaleiresca espera-se que o
número de charretes vá aumentar, acompanhado a tendência de Óbidos
e Sintra. Quem sabe uma volta à lagoa de Óbidos e parar para comer
um bom bife de cavalo ou um pedaço de boa carne de touro, no
restaurante cotado nos melhores guias turísticos. Como se não fosse
suficiente a cidade também cede terrenos para os Santos Populares,
coisa tão tradicional e com potencial turístico que hoje tem o nome
de Festival do Frango, ou Festa da Sardinha, iguaria que todo o
turista gosta de provar…
Durante o ano circos com tubarões e
lindos cavalos, Zoológicos de todo o tipo, como a Exposição
Ornitológica das Caldas da Rainha (Expoaves), a Exposição Canina
Nacional das Caldas da Rainha e a recente Exposição de aves de
capoeira, animais ornamentais e animais de companhia (Animalia), são
outros exemplos de turismo animal. Na Zona Oeste podemos acrescentar
o festival do caracol, da codorniz, do javali, ou o 1º festival da
costeleta na aldeia X. A nível nacional a carne mirandesa, alheira
de Mirandela, queijo alentejano, o peixe algarvio, e semelhantes
repetem os mesmos passos por todo o país…. O pedigree para
oferecer o melhor que Portugal tem “aos que nos visitam”.
O turismo em
Portugal quer atrair o turista que paga bem e só quer ser bem
servido. Como a cultura inglesa teve e tem grande influência no
nosso dia-a-dia e no turismo que oferecemos, vamo-nos concentrar no
turismo animal à inglesa em Portugal. Como boa parte do turismo,
além de todas as formas descritas acima (acessíveis à maioria),
existem formas de turismo exclusivas a uma classe com um pedigree
ancestral monárquico, nobre e cavalheiresco.
Em Inglaterra a
proibição por lei da caça à raposa, e a constante actuação
directa de vários grupos de libertação animal obrigam os caçadores
a procurar alternativas para a sua tradição, aproveitando a lei
portuguesa, que não só permite, mas incentiva a caça popular à
raposa como meio de controlo de invasores. O grupo Equipagem St
Humberto (4) em Portugal organiza caças à raposa ao modo inglês
(Realeza) em quintas, como na Companhia das Lezírias, propriedade do
Estado. O mesmo se pode dizer dos campos de golfe que, devido a
falta de espaço e protecção ambiental no seu país, obrigou os
players a procurar outros locais para expandir a sua
“cultura”.
A caça à raposa a corricão
é uma modalidade vantajosa em todos os sentidos. Para
o Homem, individualmente, permite o seu contacto com a natureza e
une-o aos dois animais que sempre lhe estiveram mais próximos, o cão
e o cavalo. É também uma possibilidade importante de
equitação exterior para os amantes deste desporto, e mesmo quem não
cavalga, desde que aprecie o trabalho dos cães, pode observá-lo a
pé ou de carro. - Cavalonet.com
Mais uma vez a curiosidade do ser
humano foi transformada em egocentrismo e inveja e mais uma vez o
“contacto com a natureza” tornou-se domesticação para
vermos os animais quando queremos, como queremos, nas condições que
escolhemos. Para se ver cavalos, baleias, leões, girafas, golfinhos,
ovelhas, burros, caracóis, insectos temos tirar o que de melhor tem
para oferecer (a sua liberdade), restando trabalho ou produto. No
final o que pedem a quem serve o turismo atrás de um balcão, ao
volante de um veículo, ou num palco de um restaurante, casino ou
encontro desportivo? Sorri ao turista, faz o que tens a fazer pelo
turista e vai-te embora para onde não te veja (sem farda e/ou sem
sentido)!
Mas toda esta dependência do cavalo
vai levar a casos de exploração, desigualdade social e idas ao
veterinário e hospital em números que podem lembrar o emblemático
Casal Ventoso. Porque o turismo animal não fica por aqui.
Acompanhando as corridas de galgos e cavalos realizadas por
criadores em pequenas localidades em Portugal e ainda num circuito
minoritário, os negociantes de cavalos estão a começar a ver
frutos de um lobby, com meia dúzia de anos, pelas apostas em corridas
de cavalos em Portugal. Mais uma vez alguns ingleses estão em
pulgas para poderem voltar a apostar e mesmo constituir a sua própria
casa de apostas, vender o seu conhecimento os seus produtos (textos,
fotos, equipamento, veterinária, e cavalos). Depois do ancestral
Bullbiting, da caça à raposa, porque não apostas em cavalos?
Turismo Animal e Apostas
O turismo de desporto não é novidade
em Portugal, o Europeu de futebol deixou cicatrizes económicas e
sociais que ainda hoje estamos a pagar. O jogo de casino há muito é
uma atracção turística em Portugal, Santana Lopes foi o homem dos
casinos (5) e o seu lobbing pela indústria levou-o a ser escolhido
como provedor da Santa Casa da Misericórdia, sendo reconduzido pelo
governo actual. Em 2015 o Conselho de Ministros tinha aprovado a
alteração de estatutos da instituição que passará a ter apostas
desportivas à cota (6) e em provas hípicas, neste ano foi também
aprovado o Regime Jurídico dos Jogos e Apostas On Line.
Do comunicado do Conselho de Ministros:
O objectivo é promover
actividades que tenham o cavalo como elemento, da inovação à
tecnologia com vocação internacional, da genética à
comercialização e à organização de eventos culturais e
desportivos.
Segundo o jornal Publico a legalização
do jogo virtual foi uma das exigências da Troika (7). Neste acordo
estava também previsto o aumento das funções do Turismo de
Portugal.
…o facto de esta ser uma área
sujeita a frequentes inovações tecnológicas, levaram-nos a
considerar adequado e prudente exigir uma reavaliação do regime
constante do diploma, bem como do modelo de controlo, inspecção e
regulação” Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do
Turismo. (8)
Um dos problemas a resolver era educar
os portugueses para perceberem o funcionamento das corridas de cavalo
e iniciá-lo na aprendizagem com as “inovações tecnológicas”
para ser um jogador informado e pronto a tomar as suas decisões,
para isso foi criado o site Apostas Online: especialistas em apostas
desportivas que ensinam a apostar em cavalos de corrida.
No primeiro parágrafo podemos ler:
As corridas de cavalos são um
dos mercados que mais dinheiro movimenta no mundo das apostas online.
Existem diversos mercados de apostas em corridas de cavalos, mas
antes de apostar em qualquer corrida, é necessário saber
minimamente como funciona este mercado e como fazer apostas em
corridas da forma mais correcta e inteligente possível (…) Por
norma iremos falar do mercado das corridas realizadas em Inglaterra
pois são as que mais dinheiro movimenta e por isso mais credíveis.
Apesar de em Portugal já haver provas
de corridas de cavalos com jockey e atrelagem (9), para apostas a
nível internacional é necessário outro nível de investimento em
instalações. Para isso no acordo assinado foi também preparado um
programa para a construção de um Mega Projecto Imobiliário
constituído por uma rede de hipódromos (estádios de corrida de
cavalos) que seriam construídos até 2018, onde cada um terá de ter
no mínimo 3.000 lugares, com apoio financeiro do Estado. A
responsável pela organização das corridas será a Liga Portuguesa
de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida (LPCPCC), que
segundo o seu presidente, em 2015 existiam 250 cavalos de corrida em
Portugal, mas para satisfazer o mercado de corridas de apostas serão
necessários no mínimo 10.000. Seguindo o conselho do site apostas
Online, olhamos ao exemplo das corridas em Inglaterra, onde milhares
de cavalos que não são escolhidos ou já não conseguem correr com
lucro vão para o matadouro, e servidos nos restaurantes.
A Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa será responsável pela organização e exploração das
postas em cavalos, que receberá 2% da receita bruta das apostas já
deduzidas dos prémios. (10)
- O termo recursos humanos emprega-se ao conjunto de empregos ou colaboradores de uma organização
- Recursos naturais são elementos da natureza que são úteis ao ser humano, em sociedade, no processo de desenvolvimento da civilização (Wikipedia)
- “” idem “” Idem “”
-
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