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A Importância do Activismo - por Marc Bekoff

Publicado em Domingo, 28 de Maio, 2000 no Boulder Camera

A Importância do Activismo
por Marc Bekoff
(tradução de Ricardo Petinga)

“Fechem a Coulston”, “Salvem as baleias”, “A escola de medicina consegue ser assassina”. O primeiro slogan chama a atenção ao suplício de chimpanzés enjaulados na horrível prisão da Coulston Research Foundation no Novo México, o segundo para as baleias que têm sido dizimadas por caçadores humanos, e o terceiro para a matança de cães por estudantes de medicina em aulas de fisiologia.

Numerosas frases-chave indicam insatisfação com um qualquer número de coisas que estão a acontecer no mundo. Felizmente, por trás da verbosidade estão pessoas que fazem a diferença porque “praticam o que apregoam”, porque acreditam profundamente numa ou outra causa e fazem algo em relação a isso. Expressar as suas opiniões – assumir um papel activo de se erguer pelos seus valores e crenças – é essencial para criar diálogo e para tomar decisões informadas.

Existem muitas formas diferentes de activismo; “activismo” não é sinónimo de “radical”. Nem significa violência ou a destruição de propriedade. O boicote é uma forma de activismo tal como o são as vigílias silenciosas com velas. Gandhi era um activista assim como o era a Madre Teresa.

Existem numerosos exemplos de como o activismo compensa. Alguns dos exemplos com os quais estou mais familiarizado lidam com a exploração animal. Um exemplo clássico de alguém que verdadeiramente fez a diferença foi Henry Spira, fundador da Animal Rights International. No anos 70, Spira e a sua organização popular foram responsáveis pelo corte de fundos federais a um projecto no qual investigadores no Museu Americano de História Natural realizavam cirurgias nos genitais de gatos e enchiam-nos com várias hormonas para ver como os gatos mutilados se comportariam sexualmente.

Spira também formou a Coligação para Abolir o Teste Draize (Coalition to Abolish the Draize Test), um teste que envolve usar coelhos para testar maquilhagem para os olhos. O teste Draize é tortura, e os coelhos, que têm olhos muito sensíveis, sofrem imenso. Em 1981, a própria indústria dos cosméticos concedeu um milhão de dólares à Escola de Higiene e Saúde Pública da Universidade John Hopkins (John Hopkins University’s School of Hygiene and Public Health) para estabelecer o Centro de Alternativas aos Testes em Animais. A história da maioria dos produtos cruelty-free (livres de crueldade) remonta aos esforços incansáveis e persistentes de Spira para parar o abuso de animais.

Muitas pessoas afirmam que devemos agir localmente e pensar globalmente. De facto, a Rocky Mountain Animal Defense (RMAD) localizada em Boulder (Colorado, E.U.A.), tem tido numerosos sucessos em travar o abuso de animais. Um dos maiores feitos foi trabalhar com os habitantes locais e derrotar o plano para a construção de um parque zoológico em vidro acrílico (plexiglas) na entrada do Parque Nacional das Montanhas Rochosas em Estes Park. Estes esforços ganharam menções honrosas nos Genesis Awards apresentados pela Ark Trust (www.arktrust.org), reconhecimento para filmes e activismo amigo de animais que rivaliza com o dos tradicionais Óscares. Outros sucessos da RMAD incluem terem impedido a Lakewood de envenenar cães-da-pradaria, chamado a atenção para o abuso de animais em circos, assegurado uma moratória para impedir que se exibissem animais exóticos no Festival de Boulder Creek, feito com que a Celestial Seasonings adoptasse uma política progressiva de gestão dos cães-da-pradaria, restringido os concursos de matança no Colorado e posto um fim às corridas de porcos realizadas pelo restaurante Wynkoop.

Tem também havido muita controvérsia sobre a matança de cães na escola de medicina da Universidade do Colorado. Os esforços da RMAD para parar esta prática têm tido um grande efeito. O Channel 7 News e o Daily Camera pediram o fim do uso de cães tal como o fizeram os representantes do estado Tom Plant e Dan Grossman. Há dois anos cinco alunos de medicina optaram por sair dos laboratórios que usavam cães, no ano passado houve 15 a fazer esta escolha, e este ano houve 31 a fazê-la. É seguro supor que o activismo teve alguma influência. As alternativas sem animais são justificadas educativamente, economicamente, e eticamente.

Existem também custos do activismo que frequentemente se tornam pessoais. Ser activista pode fazer com que se fique vulnerável a ataques dos opositores, especialmente quando o/a activista é encarado como alguém de estatuto ”inferior”. Recentemente, uma aluna de medicina na Universidade do Colorado alegou ter sido assediada devido ao seu criticismo dos laboratórios de cães (Colorado Daily, 20 de Abril, 2000). As minhas próprias preocupações com os laboratórios de cães foram enfrentadas por uma carta insultuosa de 11 professores da escola de medicina (Silver & Gold Record, 16 de Dezembro, 1999) que afirmavam que eu não era um juiz fiável para dizer se os laboratórios de cães eram essenciais. Que numerosas escolas de medicina de prestígio pararam de usar cães causou pouca impressão. Interessantemente, estes professores também afirmaram que os laboratórios de cães não eram essenciais mas não queriam que alguém de fora lhes dissesse isso! Também já senti os efeitos de tentativas de silenciar as minhas questões sobre a reintrodução do lince no Colorado.

Os custos do activismo – assédio, intimidação, e frustração – são o preço por se pôr as nossas crenças em jogo. O activismo também requer muito tempo, mas vale bem esse tempo. Seja paciente. Proteste calmamente mas vigorosamente. As mudanças trazidas devido a mão pesada são geralmente de curta duração e fazem pouca diferença. Frequentemente são precisos muitos esforços para acumular o ímpeto necessário para produzir mudanças profundas de atitude e de coração que realmente fazem a diferença. É importante ouvir todos os pontos de vista e conhecer bem os argumentos dos oponentes. Só sabendo as tácticas e argumentos dos adversários é que se consegue preparar um ataque sério.

É essencial lembrar que cada indivíduo conta e que cada indivíduo faz diferença. Tal como Margaret Mead notou: “Nunca duvide de que um pequeno grupo de cidadãos comprometidos e empenhados possa mudar o mundo. Na verdade, é só isso que o tem mudado.”. Soluções criativas e pró-activas embebidas em profunda humildade, compaixão, preocupação, respeito, e amor precisam de ser desenvolvidas para lidar com o largo espectro de problemas com os quais somos actualmente confrontados. O activismo frequentemente sustenta a sua formulação e implementação.

É essencial manter a esperança mesmo quando as coisas parecem austeras. Ao invés de se adoptar uma visão fatalista de que o mundo não existirá dentro de 100 anos se não aceitarmos as nossas responsabilidades únicas, é mais perturbador imaginar um mundo em que os humanos e as outras formas de vida coexistem na ausência de qualquer intimidade e interconexão. Seguramente que não queremos ser lembrados como a geração que matou a Natureza. Agora é o tempo para todos trabalharem para a paz com os outros humanos, os outros animais, e com toda a natureza – para a paz planetária universal. Há uma sensação de urgência – o tempo não está do nosso lado. A indiferença custar-nos-á demasiado. Por favor aja agora com compaixão e amor por este magnífico mundo.

Marc Bekoff ensina Biologia Ambiental, Populacional e Organísmica na Universidade do Colorado, em Boulder.

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Nota do tradutor:

Este texto do autor e professor Marc Bekoff já tem 10 anos. Voltei a deparar-me com ele recentemente quando eu próprio estava com vontade de escrever algo que motivasse as pessoas a tornarem-se mais activas, o que me levou a traduzi-lo com esse mesmo propósito.

Maior do que a frustração de lutarmos todos os dias por uma ou outra causa e percebermos que, por mais que façamos, as coisas demoram sempre tanto tempo a evoluir, é a frustração de vermos que tanta gente prefere ficar sentada no sofá, forçosamente indiferente aos problemas que assolam o mundo ou, se não indiferente, apática e conformada com algo que no fundo também lhes incomoda, em vez de se levantar e meter as mãos ao trabalho, e assim tornar-se útil e relevante. Não é preciso andar toda a gente de megafone na mão a gritar verdades inconvenientes, o activismo pode ser mais subtil e ainda assim igualmente eficaz e necessário. Pode passar pela simples divulgação de informação, oralmente numa conversa amigável ou distribuindo panfletos, mas mais importante ainda é o exemplo que podemos dar ao mudarmos os nossos hábitos e tradições que durante demasiado tempo não questionámos e que tanto mal fazem, seja aos animais, à natureza, às outras pessoas ou a nós próprios. A mudança começa em nós. E não há quem não consiga ou não tenha a força para mudar. Só não consegue quem não tenta, e é essa falta de tentar que é preocupante, frustrante e perigosa, porque permite que os males continuem a acontecer, disfarçados de rotina.

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